Autora: Frances Hardinge
Páginas: 304
Editora: Novo Século
Páginas: 304
Editora: Novo Século
Avaliação: 5/5
Descobri esse livro em um blog literário e desde o inicio da resenha, quando a blogueira colocou a sinopse eu já havia ficado absolutamente encantada com a originalidade do enredo. Os elogios da resenhista foram apenas a cereja do bolo e logo eu estava procurando o livro para ler.
A Árvore da Mentira começa quando Faith e sua família navegavam para a Ilha de Vane. Seu pai, o reverendo Erasmus Sunderly, é também um arqueologista e viaja constantemente em busca de fósseis. Ele é um homem renomado, bastante conhecido no meio acadêmico e já encontrou peças de grande importância para a sociedade. Entretanto, seus achados foram questionados e ele foi acusado publicamente de ser uma fraude. Então, o convite para participar de uma escavação em uma pequena ilha distante da grande Londres veio como um verdadeiro alívio para a família, que só desejava se afastar daquele centro de acusações.
"E de que vai adiantar partirmos? A fofoca é que nem um cão. Se você fugir, ela corre atrás."
Faith não consegue acreditar na veracidade das acusações que recaíram sobre o seu pai, um homem que sempre foi tão íntegro e correto. Seu maior desejo era seguir seus passos e se tornar uma grande cientista naturalista. Porém, não há um espaço como esse para mulheres na sociedade londrina do século XIX. As mulheres não devem ser inteligentes, apenas doces e educadas, de forma que conquistem um bom marido para sustentá-las durante a vida. Tarefa que a sua mãe executa com louvor e a sua futilidade só não a irrita mais do que esses padrões sociais nos quais ela não consegue se encaixar. Esses questionamentos fizeram com que fosse impossível não associar a história a todas as discussões que temos visto na atualidade sobre o papel feminino na sociedade. Faith está apenas descobrindo o mundo e o seu lugar nele, está deixando de ser menina para se tornar uma mulher quando descobre que não há espaço para ser quem é. Mas, isso não a amedronta, muito pelo contrário, apenas lhe mostra que ela precisará de ainda mais coragem.
"– Quanto maior o crânio, maior o cérebro, e maior a inteligência – continuava o médico, calorando-se com o tema. – Você só precisa atentar para a diferença de tamanho entre os crânios de homens e mulheres. O crânio do homem é maior, mostrando que é maior em inteligência. – O médico pareceu reparar que não estava tendo muito tato. – A mente feminina é algo totalmente diferente – acrescentou rapidamente – e deveras interessante a seu modo! Mas intelecto demais a estragaria e amassaria, feito pedra no suflê."
Entretanto, as notícias também chegam a Vane e pouco depois o reverendo é encontrado morto no terreno da casa onde estão hospedados e tudo indica que ele cometeu o maior pecado que alguém poderia cometer, suicídio. Mas, para Faith, nada disso faz sentido e ela está decidida a investigar a morte do pai. Logo, ela descobre que ele escondia uma espécime de planta um tanto singular. A árvore se alimenta de mentiras e dá frutos que revelam verdades escondidas àquele que os come. Não seria essa a solução para descobrir como se deu o falecimento do seu pai?! Resta saber se Faith estará preparada para as revelações que irá encontrar.
"Quem foi esse homem, afinal? A quem eu amei todos esses anos? Por acaso eu o conhecia pelo menos um pouco?"
Com isso, temos uma discussão sutil sobre a mentira, Frances nos mostra como uma pequena informação falsa pode se espalhar rapidamente e causar grandes estragos. Faith logo descobrirá que a mentira cobra seu preço e é difícil sustentá-la por muito tempo. A autora fala ainda sobre amizade, pois, toda essa aventura faz com que Faith faça um amigo um tanto improvável, entretanto, a amizade mais bela que encontrei no livro foi a dela com seu irmão Howard. Howard é a criança esperada, o homem, aquele que deve sustentar a família quando seu pai morrer e, porque não, seguir os mesmos passos do pai?! Apesar de que, o pequeno nunca demostrou o menor interesse pela ciência... E, mesmo sendo o filho paparicado por todos, o que as vezes pode gerar um ciuminho na irmã, eles são bastante apegados e tem um relacionamento muito fofo.
"A mentira é como uma fogueira, Faith estava aprendendo. Primeiro precisa ser nutrida e alimentada, mas com cuidado e gentileza. Um sopro delicado atiçaria as chamas recém-nascidas, mas uma baforada vigorosa demais as apagaria. Algumas mentiras ganham corpo e se espalham, crepitando de empolgação, e não precisam mais ser alimentadas. Mas então estas não são mais as suas mentiras. Têm vida e forma próprias, e não há como controlá-las."
O enredo foi muito bem construído e sua originalidade em muito me surpreendeu. Além disso, o desfecho me deixou bastante satisfeita. A leitura é dinâmica, cheia de suspense e mistério, eu terminei o livro rapidamente. Primeiro, eu estava me perguntando se o reverendo não havia se suicidado realmente e tudo não passava de uma simples teimosia de Faith em aceitar a realidade. Mas, logo começam a surgir diversos suspeitos e perguntas sem respostas. Até que, em determinado momento da história, Faith já nem sabe mais em quem pode confiar. Só a árvore que demorou um pouco para aparecer, eu já estava ficando incomodada! Mas então lá estava ela com toda a sua majestade.
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