Pare e Pense A Árvore da Mentira


O objetivo dessa coluna é conversar um pouco mais sobre as problemáticas abordadas em livros, porque acreditamos que os autores não as colocam lá apenas para dar movimento ou ação às suas histórias, mas para nos fazerem refletir e talvez até agir de alguma forma. Queremos instigá-los a pensar, mas sem nos prendermos apenas aos problemas. Quero que possa ser mais do que isso, desafiá-los a pensar em possíveis soluções. Se quiser copiar, dê os créditos.

Descobri o livro A árvore da Mentira em um blog literário e fiquei absolutamente encantada com a originalidade do enredo que ele prometia. Então, decidi que precisava conferir por mim mesma. Após concluir a leitura, eu não poderia estar mais satisfeita. A história se passava no século XIX e além de todos os elementos que a autora incluiu na história, como fantasia e mistério, ela trouxe diversos questionamentos sobre o papel da mulher na sociedade. Ela nos apresenta Faith, uma menina muito inteligente, mas inconformada com o fato de que deve guardar todas as suas aspirações na gaveta, se contentando em ser uma donzela doce e sociável, para assim conquistar um bom marido. Quando na verdade ela sempre se interessou pela ciência e deseja ser arqueóloga, como seu pai. Mas, para isso, ela precisaria ter nascido homem. 

"– Quanto maior o crânio, maior o cérebro, e maior a inteligência – continuava o médico, acalorando-se com o tema. – Você só precisa atentar para a diferença de tamanho entre os crânios de homens e mulheres. O crânio do homem é maior, mostrando que é maior em inteligência. – O médico pareceu reparar que não estava tendo muito tato. – A mente feminina é algo totalmente diferente – acrescentou rapidamente – e deveras interessante a seu modo! Mas intelecto demais a estragaria e amassaria, feito pedra no suflê."

As únicas preocupações de sua mãe são seus vestidos e outras futilidades, enquanto seu pai se pergunta quando o filho, Howard irá se interessar pelo seu trabalho. Nenhum dos dois parece estar muito atento à Faith ou talvez apenas temam encorajá-la. Mas, ela irá se mostrar muito mais forte e corajosa do que se esperaria de uma garota (ou até mesmo de um garoto). Alguns poderiam dizer que Faith apenas nasceu na época errada. Mas não posso concordar com tal pensamento. Mulheres como Faith foram essenciais em épocas como essa, elas abriram o caminho para que nós pudêssemos ter a liberdade que desfrutamos hoje. É claro que sempre haverá alvos a serem alcançados e espero que sempre tenhamos Faith's dispostas a lutarem por eles.

"Toda criança começa a vida em dívida para com os pais, que a abrigam, dão roupas e comida. Um filho pode algum dia pagar essa dívida ganhando algum dinheiro no mundo para aumentar as fortunas da família. Como filha, você nunca fará isso. Nunca servirá com honra no exército, nem vai se destacar nas ciências, nem fazer um nome para si na Igreja ou no Parlamento, nem ganhar a vida direito em qualquer profissão. Nunca será nada além de um fardo, e um dreno no meu bolso. Mesmo quando se casar, seu dote fará um rombo nos cofres da família. Você fala com tanto escárnio de Howard… mas se não se casar, algum dia vai precisar cortejar a caridade dele, ou se encontrará sem cama nem casa."

Apesar de termos conquistados diversos direitos e vivermos uma realidade bem diferente da de Faith, ainda há muito a ser discutido sobre o assunto. Muitas mulheres ainda vivem à sombra de pré-conceitos e abusos. Além de se sentirem pressionadas com as expectativas de contraírem um casamento e terem filhos, apesar de nem todas terem esses planos para si. É preciso entendermos que cada pessoa é diferente da outra e cada uma tem o seu tempo e a sua realidade. Muito se fala sobre empatia hoje em dia. E, tá aí uma palavrinha difícil de se praticar, se colocar no lugar de outro não é uma tarefa fácil, mas certamente é uma prática que pode trazer muita coisa boa.

"E talvez alguma garota, mais tarde, folheando os livros da biblioteca do pai, encontrasse uma nota de rodapé num artigo acadêmico e lesse o nome “Faith Sunderly”. Faith?, ela pensaria. Esse nome é de mulher. Foi uma mulher quem fez isso. Se ela pôde… eu também posso. E aquela pequena chama de esperança, fé e determinação passaria para outro coração. [...] Faith pensou no melhor jeito de reformular sua conclusão.
– Quero ser um mau exemplo – disse.
– Entendo. – Myrtle se mexeu, pronta para caminhar até a proa. – Bom, minha querida, acho que já começou com o pé direito."

O que vocês pensam sobre o assunto? Se interessaram pelo livro? Conta pra gente!

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