Autora: Amanda Ághata Costa
Páginas: 482
Editora: Independente
Avaliação: 5/5
Eu acompanho a Amanda nas redes sociais e estava bastante curiosa para conferir este seu novo trabalho. Já sabia que o livro iria tratar temas como depressão e violência doméstica, que são temas que costumam atrair a minha curiosidade, porque eu entendo o quanto são necessários, além de exigirem certa sensibilidade por parte do autor para serem bem trabalhados.
Betina é uma jovem universitária. Ela perdeu seus pais muito cedo em um acidente de carro quando voltavam de uma exposição de artes em que haviam sido expostos quadros pintadas por ela, ainda uma criança de oito anos de idade. Depois do acidente ela passou a morar com sua tia materna, uma mulher amarga e cruel que a fez deixar a sua paixão de pintar. Cecília parece disposta a reprimir qualquer coisa que deixe a sobrinha feliz, afasta suas amizades, impede seus namoros, além de se aproveitar de todo e qualquer situação para humilha-la e diminui-la. Felizmente ela tem amigos fiéis, que a amam e apoiam em todos os momentos, que são o Caio e a Paola, seus colegas do curso de psicologia. Mas, a situação de Betina não é nada fácil e por isso ela se agarrou com todas as suas forças aos seus pais e está decidida a encontrar o motorista que causou o acidente naquela noite, ao entrar com o carro na pista contrária e forçar seu pai a realizar a manobra que os lançou no lago negro.
"Em vez de gritar, ela fica em um silêncio profundo demais. Existem silêncios mais escandalosos do que gritos que parecem intermináveis. Ela pode não ter gritado, mas naquele início de tarde, a sua falta de reação fez isso por ela mesma."
Eu conheço algumas pessoas que, como Betina, perderam seus pais muito cedo, mas por terem parentes amorosos que cuidaram deles como se fossem seus próprios pais, não se apegaram com tanta força às lembranças deles como Betina. Imagino que por viver uma situação tão terrível junto à Cecilia, que a protagonista ainda não tenha conseguido passar pelo luto. Criar novos relacionamentos é muito desgastante para Betina, por que sua tia regula seus horários e cria mentiras para todos aqueles que se aproximam da jovem. Tanto que ela já não se esforça muito para realizá-lo e acabou por colaborar com a tia ao evitá-los. É nessa situação que surge Nicolas, um médico bonitão que está mais do que disposto a investir nessa garota complicada, por mais que ela sempre o afaste. Algumas pessoas podem se sentir um pouco incomodadas com as atitudes de Betina, mas não dá pra esperar que ela haja de maneira muito diferente. As constantes ameaças e abusos a que é submetida a tornaram uma pessoa insegura, reservada e indecisa.
"Ninguém é perfeito. Não há só uma pessoa que não erre pelo menos uma vez por semana. O que diferencia nossos erros e acertos, é a responsabilidade que tomamos pelas nossas falhas. A decência de admitir a incapacidade de ter acertado, nos dá o maior do créditos, o caráter."
Paola é aquela amiga que nos entende mais do que a nos mesmos, ela é amiga de Betina desde antes do acidente. Elas estudam juntas desde pequenas, estiveram sempre uma ao lado da outra e dificilmente isso irá mudar. Já Caio conheceu Betina na universidade e é sinônimo de alegria, alto astral e unicórnios purpurinados, como ele mesmo diz. Um homossexual, uma negra e uma vítima de violência doméstica, os três formaram uma amizade maravilhosa. Já Nicolas é um verdadeiro gentlemen. Confesso que fiquei aliviada quando a autora disse que ele não era marombado, por que isso é raro de ver em romances, geralmente o mocinho é cavalheiro, bonito, sarado, louro e de olhos verdes, por que, afinal... esse é um perfil muito comum de se encontrar por aí... Mas, pelo menos sarado, Nicolas não é.
"-Eu não sei com quais cores tem pintado o seu próprio mundo, mas você devolveu muitas delas para o meu."
A história foi muito bem construída. No final, Amanda nos dá todas as respostas e entendemos um pouco do que se passava na cabeça de Cecília, mesmo que seus motivos não sejam suficientes para justificarem nenhum de seus atos. Esse é um assunto muito necessário e era importante que houvesse um desfecho apropriado, o que aconteceu de maneira natural. Ela nos leva a refletir sobre a dificuldade que uma pessoa tem de denunciar seu algoz e como é importante ter pessoas ao redor oferecendo apoio, ao invés de julgamentos. Foi meu primeiro contato com o trabalho da Amanda e fiquei muito satisfeita. Ela possui uma escrita muito madura e envolvente e mal posso esperar pra ler outros livros dela.
"A vida pode ser um belo quadro, se você souber pintá-lo com o pouco que tem."
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