Autor: Fabio Shiva
Páginas: 168
Editora: Verlidelas
Avaliação: 3/5
Conforme divulgamos há algum tempo atrás, Favela Gótica foi um livro que recebemos em parceria com o autor Fabio Shiva. Eu estava bastante curiosa para o que iria encontrar, pois a sinopse nos promete uma fantasia com muitas críticas sociais. E, de fato é possível enxergar diversas críticas na leitura. Mas pelo que percebi da leitura, o Fabio não está interessado em apontar culpados, ele simplesmente nos leva em refletir sobre o mundo como ele é.
Liana é uma jovem humana em uma cidade de monstros, moradora de uma comunidade, ela está viciada em uma droga chamada Z, que transforma seus usuários em zumbis com o decorrer do uso. Para sustentar o vício, ela dança em uma casa noturna e também se prostitui no calçadão. Ela possui uma vida sem muitas perspectivas, seu objetivo é simplesmente conseguir dinheiro suficiente para pagar pela próxima dose de Z quando a fome bater. Porém, após um incidente no cafofo, lugar que ela chama de casa, e uma performance particularmente boa na casa noturna, ela se vê sendo procurada pela polícia e acaba procurando ajuda com os traficantes locais.
"– Não sei de que adianta tentar salvar a sua pele se você mesma está empenhada em se destruir. Não vou voltar com a minha palavra, mas é uma pena ver isso acontecendo."
Cada grupo de personagem é representado por um tipo de monstro e a partir dessas relações já é possível começar a refletir. Os policiais são lobisomens, capazes de cometer barbaridades se provocados, a maior parte deles já corrompidos pela ganância da prata. A maioria dos cidadãos sofre do mal de Circe, uma doença que os transforma em animais, trazendo a tona o que já de mais selvagem em sua natureza. Os traficantes são jacarés, um animal que denota perigo e selvageria, mas vive em comunidade. Os servidores públicos são uma espécie de zumbi também, pois se alimentam de partes de cadáveres. Os invisíveis são menores abandonados, que vivem a margem de uma sociedade que fecha os olhos para a sua presença. E, por fim, os viciados, que vivem uma vida decadente até se tornarem zumbis.
"É uma cidade grande como tantas, com seus milhões de habitantes, cada qual isolado dentro de sua própria interpretação do mundo. Uma cidade superpovoada, onde é raro o senso do coletivo. Lar de multidões de solitários, desconectados uns dos outros, destituídos de qualquer laço de identidade grupal além do trabalho, do futebol e da novela. É um lugar abarrotado de indivíduos, que só por zombaria poderia ser chamado de comunidade. As relações humanas são baseadas na competição e na desconfiança: paira em toda parte um estado iminente de guerra de todos contra todos."
Além da história de Liana, o livro é composto por diversas notas de rodapés, que são os chamados Registros Akáshicos. Mas, se no início da obra o objetivo destas notas era de trazer a definição de alguns termos criados pelo autor, em certo momento, eles se tornam uma história a parte e ela começam a crescer até se confundir com a história de Liana. É nesta hora que o enredo toma um rumo completamente inesperado trazendo diversos elementos de ficção científica. Confesso que não gostei muito desta inserção, eu realmente não estava esperando por isso e imagino que eu tenha tido uma quebra de expectativas. Tive a impressão de que a história ficou muito fantasiosa. Pois, apesar de já termos elementos fantásticos ligados à representação dos personagens como monstros, como esta caracterização estava diretamente relacionada à uma espécie de caricatura de cada classe de pessoas, a história não tinha me passado uma impressão tão onírica como quando o autor incluiu estes novos elementos.
Porém, mesmo neste momento é possível observar a existência de críticas sociais, como a nossa reação diante do novo, a tendência à polarização devido à divergência de ideias e opiniões, as diferenças causadas pela concentração de renda, a maldade e egoísmo intrínseco à personalidade humana, entre outros. Foi uma leitura bastante interessante, que me tirou da minha zona de conforto. Se você curte leituras diferentes que nos levem a reflexão, esta é uma boa pedida. Mas, é importante realizar a leitura com a mente aberta.
Gratidão por sua leitura e pela bela resenha! Salve nossa Literatura Brasileira!
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