Cheiro de livro novo: A Escolhida

Título: A Escolhida
Autora: Lois Lowry
Páginas: 190
Editora: Arqueiro
Série: O Doador de Memórias #2
Próximo: O Mensageiro
Avaliação: 5/5

Já tem mais de um ano que li O Doador de Memórias, mas foi um livro marcante para mim. Eu fiquei bastante curiosa para dar continuidade à série, mas sabia que a sequência não tinha relação com o primeiro, então acabei enrolando um pouco para ler, apesar de ter conseguido pegar A Escolhida emprestado com a Isabela há algum tempo. Dica do dia: quando quiser ler um livro, compre de presente para sua amiga e depois pegue emprestado! 😂

"'Orgulhe-se de sua dor', sua mãe sempre lhe dizia. 'Você é mais forte do que aqueles que não sentem dor alguma.'"


Kira é uma menina que acabou de tornar-se órfã. Seu pai faleceu antes de seu nascimento e, agora que sua mãe se foi por uma misteriosa doença, está sozinha e sem suporte. Mas ela sempre foi forte e foi educada para ser independente, apesar de ter uma perna defeituosa que a impede de realizar grande parte das funções de uma mulher na comunidade.

Porém, para permanecer no vilarejo, Kira precisará enfrentar as pessoas que desejam mandá-la embora. Na comunidade onde vive, os mais fracos sempre são descartados e uma pessoa imperfeita não tem utilidade. Portanto, sem família para lutar por ela, torna-se alvo fácil para o preconceito.

"Tremeu levemente de medo. O temor sempre fizera parte da vida das pessoas. Por causa do medo, elas construíam abrigos, buscavam comida e plantavam hortas. Pelo mesmo motivo, armazenavam armas, precavidas."

Parece que seu destino de ser mandada para as feras já está selado, mas ainda assim permanecesse de cabeça erguida quando é convocada para um julgamento pelo Conselho dos Guardiões, os governantes do vilarejo. O que ela não podia imaginar era o quanto sua vida mudaria após esse dia.

"Kira não sabia o que o Conselho dos Guardiões iria decidir. Sabia apenas que, se ficasse ou partisse, se reconstruísse sua morada ou tivesse de ir para o Campo, estaria sozinha."

Os guardiões dão para a menina um trabalho de extrema importância: restaurar a túnica do Cantor. Kira sempre mostrou ter uma habilidade inata para bordar, um talento que nem mesmo sua mãe possuía, e por isso desperta o interesse dos guardiões. 

Anualmente ocorre a Congregação, onde o Cantor faz sua aparição e apresenta o Hino que conta toda a história do mundo. É uma longa canção e a túnica, bem como o cajado que usa, servem como orientação, pois são repletos dos detalhes presentes nos versos. Por ser muito antiga e reutilizada diversas vezes, está com muitos remendos e desbotada em várias partes. Portanto, Kira foi escolhida para preservá-la e, além disso, para preencher a parte em branco da vestimenta, escrevendo o futuro em forma de bordado.

"Kira compreendeu de repente que, embora sua porta estivesse destrancada, não era livre de verdade. Sua vida se limitava àquelas coisas e àquele trabalho. Ela estava perdendo a alegria que costumava sentir quando as linhas de cores vivas tomavam forma em suas mãos, quando os bordados vinham a ela e eram só seus. (...) não era aquilo que suas mãos ou seu coração desejavam fazer."


Kira é uma personagem que me surpreendeu. Eu imagino que tenha entre 12 e 16 anos, sua idade exata não é revelada, mas é uma garota muito madura e inteligente. Sua mãe a educou de tal forma que ela não se distingue somente por sua imperfeição, mas também por sua forma crítica de pensar. Sem dúvida está a frente da sociedade em que vive. No livro também somos apresentados a Thomas, o jovem entalhador, que possui a mesma idade dela e uma função bem semelhante. Ele tem um talento único e é bem esperto, mas senti que ficou um tanto acomodado com a vida que leva. Kira foi bem mais sagaz para perceber as coisas. E também conhecemos Matt, um menininho muito dinâmico e extrovertido, que sabe se virar muito bem para alguém tão jovem. No início do livro não dei nada por ele, mas passado um tempo percebi como ele era importante para o prosseguimento da história.

O enredo desse livro é completamente diferente do anterior. A comunidade de Kira parece ter voltado no tempo, perderam quase toda tecnologia que a humanidade já criou. É até esquisito pensar como podem ser tão discrepantes, a de Kira e a de Jonas, que era altamente tecnológica. Além disso, a comunidade de Jonas fazia o possível para que a vida da população fosse "perfeita" e sem desigualdade; já na de Kira, existe bastante preconceito e violência. No entanto, elas possuem coisas em comum, como o fato das pessoas viverem tão alienadas, aceitarem que a vida é assim porque é, sem terem pensamento crítico, sem tentarem compreender o que se passa por trás de suas atitudes e dos líderes. Tudo parece funcionar muito bem se cada um segue sua própria função sem questionar, fechando os olhos para o que tem de ruim e o que tentam manter escondido. Da mesma forma que antes, a autora consegue fazer o leitor refletir sobre muitas coisas, mesmo sem se alongar muito na narrativa. O livro é curto, mas com muita profundidade. Só que isso trouxe a mesma sensação que o outro me deu, de que muitas incógnitas não foram respondidas. Até agora não sei se esse é o objetivo mesmo e que nos próximos volumes as coisas vão ser mais explicadas, ou se o leitor vai ter que se contentar em resolver o quebra-cabeça sozinho. Só lendo mesmo para descobrir! Haha

"Os guardiões, com seus rostos severos, não tinham nenhum poder criativo. Mas eram poderosos e astutos e haviam encontrado uma maneira de roubar e controlar os poderes das outras pessoas para o seu benefício."

A narrativa é em terceira pessoa, sempre acompanhando o ponto de vista de Kira. A diagramação é como a do anterior, bem simples, mas com fontes confortáveis e páginas amareladas. A revisão está excelente, não lembro de encontrar erros durante a leitura. Sobre a capa, admito que ela não me chama muito a atenção e parece ter sido feita com uma colagem esquisita de modelo, flor e título. Hahaha O título original em inglês Gathering blue também traz uma relação maior com a história do que esse traduzido.


Essa é uma história simples, mas que ao mesmo tempo consegue nos fazer pensar sobre diversos assuntos. Estava com medo de não me sentir cativada, por ser tão diferente do primeiro volume, mas Kira me conquistou muito rápido. Agora estou curiosíssima para ler o próximo livro, em que espero que nossos dois protagonistas finalmente se encontrem, apesar de saber que teremos um outro personagem protagonizando. Quero respostas! Hahaha


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